Tudo o que não seja uma vitória de Purito ou Quintana será uma surpresa

Este ano com partida em Belfast e chegada a Trieste, decorre entre 9 de Maio e 1 de Junho a prova ciclista por etapas favorita de muitos puristas: o Giro de Itália. Das nações com tradição na organização de provas velocipédicas a Itália é provavelmente a que oferece as melhores condições orográficas e paisagísticas para a elaboração do percurso. Isto, conjugado com o estilo atacante e muito combativo que os corredores italianos costumam emprestar à sua corrida, tem resultado numa corrida bastante imprevisível e que ofereceu nos últimos anos o melhor cenário para gloriosas conquistas à geral ou emocionantes vitórias de etapa como a de Kiryienka em Sestiere 2011, 5 dias após a morte do colega de equipa Xabi Tondó, ou ainda a de Rabottini em Pian dei Resinelli 2012 a sacar uma vitória ao sprint sobre Joaquín Rodriguez depois de alcançado nos metros finais de uma longa fuga.

O Percurso: Em comparação com as últimas edições, o Giro 2014 destaca-se pelo maior número de oportunidades que reserva para os sprinters, contando com sete etapas que podem acabar com um grande grupo compacto, e um menor número de etapas de média montanha. O ponto-chave do percurso é a sua tremenda última semana onde se destaca a sequência da brutal crono-escalada sobre o Monte Grappa (19 Km @ 8%!) à 19ª etapa e a chegada ao duríssimo Zoncolan à 20ª. Em princípio será a crono-escalada a marcar as maiores diferenças entre os favoritos neste Giro mas, após este determinante e duríssimo dia em que todos os favoritos terão de andar a topo, a possibilidade de um fraquejar de pernas decisivo no Zoncolan estará presente. Para o Giro 2014 não ser um passeio para os trepadores puros, o percurso conta ainda com um contrarrelógio individual relativamente sinuoso de 41.9Km. Entre as etapas que contam com algumas armadilhas para os favoritos destaque para a 2ª com partida e chegada a Belfast que juntará o nervosismo do início de corrida com a possibilidade de ventos cruzados por realizar-se na orla costeira irlandesa, as estradas apertadas, e a frescura física de todos os participantes. A propósito do 10º aniversário da morte de Marco Pantani, o Giro presta nesta edição homenagem a “Il Pirata”, mais notoriamente à 8ª etapa - a primeira de montanha - onde a corrida passará pelo mítico Cippo di Carpegna, subida esta não reconhecida por ser uma das montanhas onde Pantani fez algumas das suas melhores exibições, mas por ser aquela que utilizava quase exclusivamente para treinar. É bem conhecida a resposta de Pantani quando lhe perguntavam se iria fazer algum reconhecimento das subidas decisivas do Giro ou do Tour: “Il Carpegna mi basta”.

Os Favoritos: No que respeita à luta pela classificação geral, Nairo Quintana (Movistar) e Joaquín Rodriguez (Katusha) apresentam-se como os maiores candidatos à vitória final. Ambos suportados por fortes equipas totalmente dedicadas à conquista da rosa, e com uma estatura baixa que os favorece enquanto excelentes trepadores, contam com algumas características diferenciadas que explorarão para levar de vencida a concorrência. Assim, se no último Tour Quintana bateu Purito na luta pela 2ª posição, mostrando-se um trepador mais forte e regular ao longo das 3 semanas, Purito tem a vantagem de, por ser melhor finalizador, no Giro haver bonificações para os vencedores das etapas, nunca descontando a vantagem que lhe dá a experiência acumulada nesta corrida em particular onde o colombiano se estreia. Outra diferença entre os dois é a forma como abordam este Giro. Rodriguez já apontou um pico de forma às Ardenas, onde as quedas o retiraram da disputa, e Quintana apostou num crescendo de forma mais gradual que o levou, por enquanto, a boas classificações mas não a grandes vitórias, tendo sido batido já este ano por Rodriguez na Volta à Catalunha. Igualmente secundados por equipas totalmente dedicadas estarão presentes com pretensões à vitória Cadel Evans (BMC) e Rigoberto Úran (Omega Pharma - Quickstep). Evans vem de um excelente início de época, onde já venceu o “warm-up” para o Giro de Itália, a Volta a Trentino. Úran não costuma ter épocas muito consistentes mas habituou-nos a estar a grande nível nas corridas a que aponta, tendo realizado no último domingo um contrarrelógio de grande nível na Volta à Romandia que é um grande auspício para a sua prestação no Giro. Entre os corredores que terão pretensões a um lugar no Top 5 surgem os italianos Michele Scarponi (Astana) e Domenico Pozzovivo (AG2R). Scarponi lidera uma equipa recheada de qualidade onde também poderão brilhar o jovem Fabio Aru, o trepador basco Mikel Landa e ainda Janez Brajkovic. Pozzovivo surge em 2014 a um grande nível e formará juntamente com Rafal Majka (Tinkoff – Saxo) e a dupla Dan Martin e Ryder Hesjedal (Garmin - Sharp) um quarteto com reduzidas mas atuais hipóteses à vitória final. Na luta por um lugar no top 10 partirá um extenso rol de nomes em que surgirá Ivan Basso (Cannondale), Niemec e Cunego (Lampre - Merida), Pellizotti (Androni), Pirazzi (Bardiani), Kelderman (Belkin), Duarte (Colombia), Geniez (FDJ), Monfort (Lotto), Santaromita (Orica), P. Rolland (Europcar), Cataldo e Kennaugh (Sky), ou R. Kiserlovski (Trek). Já na luta pela camisola vermelha da classificação por pontos, a edição deste ano favorece os sprinters. Marcel Kittel (Giant) surge como o sprinter de maior capacidade neste Giro mas há bastantes dúvidas sobre se realizará toda a corrida. Neste caso, Elia Viviani (Cannondale) que vem de bater o pé a Cavendish por duas vezes na Volta à Turquia é a maior ameaça ao domínio do alemão e o grande candidato à classificação. O terceiro grande candidato a vencer uma etapa ao sprint neste Giro é Nacer Bouhanni (FDJ). Outros corredores que poderão também espreitar uma vitória e apresentam-se como candidatos à camisola vermelha são M. Matthews (Orica), G. Nizzolo (Trek), Ben Swift e Boasson Hagen (Sky), S. Ponzi (Yellow Fluo), Mezgec (Giant) e S. Colbrelli (Bardiani). Outros homens rápidos presentes são F. Chicchi (Yellow Fluo), Belletti (Androni), Appolonio (AG2R), Ruffoni (Bardiani), Ferrari (Lampre), Dehaes (Lotto), Ventoso (Movistar) ou Hurel (Europcar). A classificação da montanha é bastante imprevisível, sendo provável que acabe no corpo do vencedor da classificação geral. Alguns corredores combativos que poderão contrariar esta tendência, agora que o eterno candidato Pirazzi (Bardiani) parece querer focar-se na luta pela classificação geral, são Hoogerland (Androni), Rabottini (Yellow Fluo), Bongiorno (Bardiani) ou Chalapud (Colombia). Entre os corredores de grande qualidade e que andarão à procura de vitórias de etapas destacam-se Diego Ulissi (Lampre), P. Weening (Orica), E. Battaglin (Bardiani), M. Moser (Cannondale), Rubiano (Colombia), A. Hansen (Lotto), Arredondo (Trek) e N. Roche (Tinkoff - Saxo). O único português presente será André Cardoso (Garmin - Sharp), que se tem mostrado a muito bom nível nesta sua primeira aventura ao mais alto nível do ciclismo. O português é um gregário de luxo para D. Martin e Hesjedal e assim só lutará por objetivos individuais caso os seus dois líderes claudiquem durante a corrida.

Quem levará a melhor entre Rodriguez e Quintana? Qual a sua previsão para os lugares cimeiros da classificação? Kittel passeará nos sprints ou terá luta? Quem vencerá a classificação dos pontos e da montanha? Este será um Giro dos veteranos ou das estrelas emergentes?

Visão do Leitor (perceba melhor como pode colaborar no VM aqui!): Luís Oliveira

P.S. Está disponível em www.velogames.com, um Fantasy do ciclismo, uma mini-liga do Visão de Mercado para este Giro de Itália. O objetivo é recolher o maior número de pontos com os 9 elementos escolhidos dentro de um orçamento estipulado. Para tal, há que tentar adivinhar quem estará bem nas classificações à geral, montanha e por pontos, tanto como presumíveis vencedores de etapas. Os dados necessários para entrar na nossa mini-liga são: League Name: Visão de Mercado; League Code: 01131010 

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